quarta-feira, 20 de maio de 2009

SANTO ANTÔNIO (bairro, Recife)

SANTO ANTÔNIO (bairro, Recife)

Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco


No princípio da colonização portuguesa, a ilha onde se encontra hoje o bairro de Santo Antônio pertencia ao colono Marcos André - fundador do Engenho da Torre - continha somente algumas casas de pescadores, e era chamada Ilha dos Navios, porque servia para fazer reparos em navios e outras embarcações que atracavam no Porto do Recife. No início do século XVII, foi fundado um convento e a área, que media aproximadamente seis hectares, passou a ser chamada Ilha de Santo Antônio. Além dessas duas denominações, a localidade foi ainda conhecida como Ilha de Antônio Vaz, Porto dos Navios e Ilha do Governador.

Durante o período da invasão holandesa (1630 -1654), o conde Maurício de Nassau residiu naquela Ilha. Foi lá que ele deu início à sua expansão territorial, fator determinante para o desenvolvimento urbano da época. Fundou uma pequena cidade, abrangendo toda a área e, em 1644, construiu uma ponte em madeira - denominada Mauritstaad - para facilitar o acesso ao seu Palácio da Boa Vista, bem como ao Porto do Recife. Com o passar do tempo, a ponte foi chamada Ponte Holandesa da Boa Vista e, depois, de Ponte da Boa Vista.

No extremo norte da ilha, nos anos 1638/39, o conde construiu o Palácio de Friburgo, também chamado Palácio das Torres, que possuía duas torres altas, várias espécies de animais, e um jardim botânico repleto de plantas exóticas. O jardim zôo-botânico de Nassau, o primeiro existente no Brasil, se localizava na atual Praça da República, um dos mais belos logradouros públicos da cidade, bem como o principal centro cívico, cultural e administrativo do Recife. O jardim ficava próximo às atuais ruas Primeiro de Março e do Imperador que, na época, eram chamadas, respectivamente, rua do Crespo e do Colégio. Em 1789, através de muitos aterros, vale lembrar, iniciou-se uma série de transformações na localidade, sendo criada a Freguesia do Santíssimo Sacramento do Santo Antônio.

Na Praça da República pode-se apreciar os monumentos a Augusto dos Anjos e aos heróis de 1817, a estátua do Conde da Boa Vista, uma fonte luminosa, várias espécimes vegetais, o Teatro Santa Isabel - projetado e construído pelo engenheiro francês Louis Léger Vauthier (que também tem uma estátua no local) e inaugurado no dia 18 de maio de 1850 - e o Palácio do Governo de Pernambuco que, desde 1967, tem funcionado como residência oficial do Governador do Estado.

A denominação do largo da Praça da República foi oficializada pelo município, em 1980. Entretanto, é também conhecido como Campo das Princesas, expressão que permanece até hoje. Palco de grandes acontecimentos e testemunha de encontros políticos importantes, o Palácio do Campo das Princesas conservou-se no mesmo local que o conde Maurício de Nassau escolheu para sede do Governo de Pernambuco, desde o século XVII.

Os primeiros engenhos de açúcar - formados pelos senhores de engenhos e suas famílias, lavradores, capelães, feitores, banqueiros e escravos - foram aparecendo às margens do rio Capibaribe, e se constituindo em grandes núcleos populacionais que se multiplicavam nas senzalas, dando origem às vilas.

No bairro, em 1643, Nassau construiu o Palácio da Boa Vista - ou Schoonzit, em holandês - destinado ao seu repouso e lazer. Ficava situado na área onde se encontra, hoje, o Convento do Carmo do Recife. A expressão Boa Vista, colocada pelo conde, deveu-se à bela paisagem que podia ser contemplada de qualquer ponto do palácio. Diante do seu portão, ele mandaria construir a segunda ponte da cidade Maurícia, a primitiva Ponte da Boa Vista, hoje chamada Ponte Velha, mas cujo nome oficial é Ponte 6 de Março.

Cabe registrar que, em um dos trechos da atual rua do Imperador, existia o Teatro Capoeira, cujo funcionamento datava de 1772, e que também era chamado Casa da Ópera ou Teatro de São Francisco; e, no final do século XVIII, o Clube Nove e Meia do Arraial que, além de danças e jogos, contava com a presença de inúmeras meretrizes. Uma delas, muito disputada, era Laura Passos, cujos amantes brigavam e matavam tentando obter a sua companhia. Por essa razão, aquele Clube era conhecido como Laurinha Cemitério.

No bairro de Santo Antônio pode ser apreciada a Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento de Santo Antônio, um dos templos mais bonitos da cidade, finalizado no século XVIII, que possui um estilo barroco colonial e está localizado em volta da Praça da Independência. No local onde a igreja foi construída jaziam, antes, as trincheiras dos holandeses e a conhecida Casa de Pólvora.

Datada do século XVIII, destaca-se a Capela Dourada, situada na rua do Imperador Pedro II, bem próxima à Praça da República. A beleza e a exuberância desse templo vêm atraindo muitos turistas brasileiros e estrangeiros, entre os quais historiadores e pintores. Ressalta-se, também, a existência do Convento Franciscano de Santo Antônio, uma das obras mais antigas do Recife, e o sétimo convento franciscano erigido no Brasil. Anexo à Capela Dourada pode ser apreciado o Museu Franciscano de Arte Sacra, em cujo acervo constam peças valiosas que remontam ao apogeu litúrgico do catolicismo. A coleção barroca, em particular, está localizada nas escadas, salas e ao redor do pátio interno da Ordem Terceira de São Francisco.

Apresentando duas elegantes torres simétricas, com tochas nas quinas, e uma cúpula imponente, vê-se a Igreja de São Pedro dos Clérigos, que representa uma das obras arquitetônicas religiosas mais expressivas de Pernambuco. Ela possui um estilo barroco e data do princípio do século XVIII (quando foi instituída a Irmandade de São Pedro dos Clérigos no Recife). A Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Militares, por sua vez, está situada na rua Nova. De acordo com os registros históricos, os militares do Terço da vila de Santo Antônio do Recife - os oficiais, sargentos e praças dos Corpos de Fuzilamento e Cavalaria -, solicitaram a criação de uma Irmandade dos Militares, e a construção de uma igreja que fosse sua, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição.

No bairro, encontram-se ainda o Liceu de Artes e Ofícios, a Secretaria da Fazenda, o Arquivo Público Estadual - que possui o maior acervo bibliográfico da História de Pernambuco -, a Praça Joaquim Nabuco - onde se encontra o tradicional restaurante Leite - o Gabinete Português de Leitura, fundado em 1850, a Ponte Duarte Coelho (que liga a avenida Conde da Boa vista à avenida Guararapes), e a Ponte Princesa Isabel (que liga a Praça da República à rua da Aurora).

Uma outra suntuosa edificação, inaugurada em 1930 e situada na Praça da República, é o Palácio da Justiça, que ocupa um espaço no qual fora construído o viveiro de peixes do Palácio de Friburgo. Ali, pode-se apreciar um baobá, uma árvore proveniente das estepes africanas cujo tronco chega a atingir nove metros de diâmetro. Esse baobá foi tombado pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, no dia 2 de abril de 1986.

No século XIX, o Conde da Boa Vista construiria o novo Palácio do Governo, passando a sua praça a ser chamada Largo do Palácio. Em 1859, depois da visita de Dom Pedro II a Pernambuco, o local foi denominado Campo das Princesas. E, por fim, com a queda do império e a conseqüente mudança da forma de Governo, o logradouro adquiriu o nome pelo qual ainda é chamado hoje: Praça da República.

Situada em pleno centro do Recife, encontra-se a Praça da Independência. Durante o domínio holandês, ela já figurava na planta da Cidade Maurícia como o Terreiro dos Coqueiros, local onde funcionava um grande mercado. O logradouro público foi chamado ainda de Praça Grande, Praça do Comércio e Praça da Ribeira. Em 1788, ele continha sessenta e duas casinhas - que vendiam gêneros de primeira necessidade – e era chamado Praça da Polé. Em 1816, passou por uma reforma significativa, as casinhas foram substituídas por lojas de maiores dimensões, e ficou sendo chamado Praça da União. Em 1833, finalmente, adquiriu o nome Praça da Independência. No entanto, por se encontrar nessa Praça o edifício do Diario de Pernambuco - o jornal mais antigo da América Latina -, ficou popularmente conhecida como Praça do Diário ou Pracinha.

No começo do século XX, com o objetivo de ampliar o local, vários quarteirões e lojas foram demolidos: a Praça duplicou de tamanho e adquiriu mais ou menos as dimensões que hoje possui. Por sua vez, foram ali erguidos um conjunto de esculturas em gesso, simbolizando "as três raças unidas contra o invasor", um arco de triunfo, e o busto de Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo (1891 -1968), com uma caneta em punho a escrever, ambos criados pelo notável escultor Abelardo da Hora.

A Praça da Independência é considerada, hoje, como a de maior movimento na cidade e o coração do bairro de Santo Antônio. Por ela, terminam ou iniciam várias vias públicas, tais como as ruas Duque de Caxias, Primeiro de Março, Nova, Matias de Albuquerque, Engenheiro Ubaldo Gomes de Matos, as avenidas Dantas Barreto e Guararapes, e o Largo do Rosário. É nessa praça onde são realizados os grandes comícios e partem passeatas, procissões, cortejos cívicos, blocos de carnavais, centralizando também as manifestações e/ou reivindicações políticas, religiosas, e culturais que ocorrem no Estado de Pernambuco.

Fontes consultadas:

BRAGA, João. Trilhas do Recife; guia turístico, histórico e cultural. Recife: [s.n.] 2000.

CAVALCANTI, Carlos Bezerra. O Recife e seus bairros. Recife: Câmara Municipal do Recife, 1998.

FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife: estátuas e bustos, igrejas e prédios, lápides, placas e inscrições históricas do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.

GALVÃO, Sebastião de Vasconcellos. Diccionario chorografico, histórico e estatístico de Pernambuco. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1908. 4v.

GUERRA, Flávio. Velhas igrejas e subúrbios históricos. Recife: Fundação Guararapes, 1970.

IBGE. Censo 2000.

PERFIL Municipal: histórico e evolução urbana. Recife: URB/DPU/DEP, 1989.

ZANCHETI, Sílvio Mendes; LACERDA, Norma; MARINHO, Geraldo (Org.). Revitalização do bairro do Recife: plano, regulação e avaliação. Recife: UFPE, Editora Universitária, Mestrado em Desenvolvimento Urbano e Regional, Centro de Conservação Integrada Urbana e Territorial, 1998.

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