quarta-feira, 20 de maio de 2009

ROSA E SILVA

ROSA E SILVA

Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco


Na capital de Pernambuco, no dia 4 de outubro de 1857, nasce Francisco de Assis Rosa e Silva, filho de Joana Francisca da Rosa e Albino José da Silva, este, um português originário do Minho.

Rosa e Silva ingressa aos dezesseis anos na Faculdade de Direito do Recife. Bem jovem, juntamente com um irmão e um colega, funda os periódicos o Congresso Literário e a Luta. Em 1879, segue para a Europa para se aperfeiçoar academicamente, lá permanecendo até o ano de 1881.

No regresso ao Recife, decide se filiar ao Partido Conservador, ingressando na vida política. De 1882 a 1883, Rosa e Silva se elege para a deputação provincial, sendo reeleito nos anos seguintes. E torna-se, a partir daí, um legítimo intérprete das aspirações das classes agrícola e comercial.

No dia 19 de outubro de 1897, formada com o objetivo de apoiar o governo de Prudente de Morais, a convenção do Partido Republicano indica os nomes de Campos Sales e Rosa e Silva, respectivamente, para a presidência e vice-presidência da República durante o período 1898-1902. Após a contagem dos votos, Rosa e Silva alcança 412.074 sufrágios, sendo eleito vice-presidente no Governo de Campos Sales.

Rosa e Silva adquire o jornal Diario de Pernambuco em 1901. Convida, então, Artur Orlando, um deputado federal para dirigir o periódico.

Quando Hermes da Fonseca assume a Presidência da República, no dia 15 de novembro de 1910, os militares adquirem mais prestígio do que as antigas oligarquias (como a "rosista", em Pernambuco). Dentre esses militares, encontrava-se o General Emídio Dantas Barreto, um pernambucano que exercia as funções de Ministro da Guerra e que vinha concorrer, politicamente, com Rosa e Silva.

Quando Dantas Barreto resolve disputar o Governo de Pernambuco, em 1911, surge um dos períodos mais agitados da política do Estado. Cabe aqui esclarecer que Rosa e Silva era apoiado pelas forças políticas e, Dantas Barreto, pelas tropas do Exército - o 49º Batalhão de Caçadores - sob o comando do General Carlos Pinto. Este último, era o encarregado de enfrentar os combates de ruas, travados entre "rosistas" e "dantistas".

No dia 18 de outubro de 1911, em frente a um teatro (o Helvética) existente na rua Imperatriz, ocorre um confronto sangrento entre os populares e a cavalaria do Exército, vindo a falecer o Capitão José de Lemos, comandante da tropa. Tal incidente dava margem a que o Chefe de Polícia suspendesse todos os comícios e passeatas seguintes.

Depois das eleições, o Diario de Pernambuco divulga a vitória de Rosa e Silva, com 21.613 votos, ficando Dantas Barreto com 19.585 votos. Mas, os partidários de Dantas Barreto não se conformavam com o resultado das urnas. E o Recife passa a vivenciar inúmeros incidentes violentos, que convergiam para a paralisação dos bondes, o fechamento de cinemas e casas comerciais, e o grande temor da população em sair às ruas.

No dia 12 de novembro de 1911, ocorre um tiroteio na rua da Aurora, nas ruas das Flores, Barão da Vitória e Imperador e na Praça da Independência. Um dos principais alvos desse confronto é, precisamente, a redação do jornal Diario de Pernambuco, uma empresa de propriedade de Rosa e Silva.

No dia 12 de novembro, há um incidente ainda mais grave: com o apoio das tropas do Exército, os grupos populares atacam os quartéis da Polícia. O Palácio do Governo também é atacado e os tiros, partindo do Cais do Apolo e do Forte do Brum, quase matam Estácio Coimbra - na época, o Governador de Pernambuco e uma pessoa de total confiança de Rosa e Silva. Um dos tiros perfura, inclusive, o gabinete de Estácio, indo alojar-se em uma parede a um palmo de sua cabeça. O Governador, após o incidente, passa a despachar na própria Chefatura de Polícia.

A polícia volta a revistar os transeuntes que circulam pelas ruas, depois do dia 24 de novembro; os trens da Great Western paralisam (com pedidos de garantias à Guarnição para as estações do Brum, Cinco Pontas e Central); as escolas de Direito e de Engenharia suspendem as provas; ocorre um tiroteio contra o Ginásio Pernambucano, enfim, a cidade torna a viver horas de muita angústia.

Nessa época, já doente, José Mariano envia o seguinte telegrama, do Rio de Janeiro, que o jornal A Província vem a divulgar:

Impossibilitado fisicamente de achar-me ao lado do povo pernambucano no dia da reconquista de sua liberdade, tenho esperança de que êle sacudirá o domínio ignominioso da oligarquia que nos avilta e me dará a consolação, se estiver terminada minha carreira política, de deixar livre a terra que tanto tenho amado. O Povo não precisará que eu o estimule, porque tem a consciência da responsabilidade que lhe cabe no atual momento histórico de nossas reivindicações.

Os incidentes no Recife se tornam notícia internacional, também, em jornais de Lisboa – como O Século e A Ilustração Portuguesa – e de Paris - o Le Matin. Apenas quando Estácio Coimbra solicita uma intervenção federal para a capital do Estado, é que a situação se normaliza.

O Congresso é convocado, então, no sentido de reconhecer o candidato eleito. Dessa vez, no entanto, o General Dantas Barreto é apontado como o legítimo Governador do Estado, vencendo Rosa e Silva por uma diferença de 1.164 votos. Isto marcava o final do predomínio do rosismo, uma oligarquia que permaneceu no poder por 15 anos, de 1896 a 1911 e que através das alianças, dominava a Polícia, o Tesouro, o fisco.

Dantas Barreto era recebido apoteoticamente pela população cantando o seguinte coco:

O pau rolou, caiu.
Rosa murchou, Dantas subiu.

Mesmo sendo derrotado, Rosa e Silva não interrompe a sua carreira política. Ele é escolhido para fazer parte da comissão executiva do Partido Republicano Conservador e, em 1924, é reeleito senador, com um mandato até o ano de 1932. Vale salientar que o saneamento da cidade e a construção do porto do Recife são obras que contaram com um grande empenho de Rosa e Silva.

Em abril de 1929, Francisco de Assis Rosa e Silva adoece de gripe. Tal moléstia se agrava e termina se tornando uma broncopneumonia. No dia 1º de julho de 1929, vem a falecer, sendo enterrado no Cemitério de Santo Amaro com honras de Chefe de Estado.

Fontes consultadas:

FONSECA, Annibal Freire da. Rosa e Silva: centenário do seu nascimento – 1857-1957. [s.n.t].

PORTO, Costa. Os tempos da República Velha. Recife: FUNDARPE, 1986.

______. Os tempos de Rosa e Silva. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 1970.

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