quarta-feira, 20 de maio de 2009

PRAÇA DE CASA FORTE

PRAÇA DE CASA FORTE

Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco


A expressão Casa Forte é proveniente do conflito ocorrido em 17 de agosto de 1645, entre pernambucanos e holandeses. Casa Forte era o nome do histórico engenho pertencente à Ana Paes, uma senhora avançada em relação à sociedade do século XVII, que se notabilizou pela liberdade de pensamento e coragem pessoal. E o referido engenho foi um dos últimos redutos da resistência flamenga, por ocasião da Insurreição Pernambucana.

Naquela época, o exército holandês, comandado por H. van Hauss, é derrotado nas Batalhas das Tabocas, em Vitória de Santo Antão. As patrulhas holandesas vêm para Casa Forte, então, com o objetivo de ali fazerem a sua trincheira. Porém, as senhoras chefes revolucionárias reagem. Entre elas, se encontravam as seguintes: Ana Bezerra, Isabel de Góis e Maria Luíza de Oliveira. Cercados, portanto, pelo exército pernambucano - comandado pelo sargento-mor Antônio Dias Cardoso -, os invasores fogem para o Forte de Cinco Pontas.

Na frente da igreja do Sagrado Coração - antiga residência de Ana Paes -, na atual Praça de Casa Forte, encontra-se uma placa que registra o resultado daquele histórico encontro:

Neste local, denominado outrora engenho de Anna Paes, a 17 de agosto de 1645, o exército pernambucano dirigido por VIEIRA, VIDAL, DIAS E CAMARÃO combateu uma coluna holandesa que havia aprisionado matronas pernambucanas e se fortalecido na casa de morada à direita da Igreja, resultando victoria para os libertadores com o aprisionamento completo dos inimigos. Memória do Inst. Arch. e Geogr. Pernambucano em 1918..

Em 1810, o Padre Roma (em verdade, José Inácio de Abreu e Lima) adquire e reforma a antiga residência de Ana Paes, a casa-grande do engenho Casa Forte. Menos de uma década depois, ou seja, em 1907, as irmãs francesas da Sagrada Família readquirem e reformam a casa, situada hoje no número 52, e nela instalam um colégio para moças (onde fica, hoje, o atual Colégio NAP - Sagrada Família). A igreja de Casa Forte estava completamente em ruínas em 1865.

A casa-grande do engenho passa a ser conhecida como Casa Forte, nome que é estendido a toda a propriedade, ao povoado e, posteriormente, ao futuro bairro. As casas do engenho, por sua vez, estão situadas em uma grande praça, chamada Campina de Casa Forte.

A Igreja de Casa Forte foi reformada e reconstruída somente em outubro de 1911. Na ocasião, foi consagrada também como Igreja-Matriz de Casa Forte, sob a invocação do Sagrado Coração de Jesus.

No ano de 1933, graças à intervenção do Prefeito Antônio de Góes, que revitaliza o pátio em frente à Igreja, a Praça vem se tornar uma das mais belas do Recife. Quatro anos depois, em 1937, o Prefeito Novaes Filho transforma esse logradouro em um espaço de lazer, colocando-o à disposição da população pernambucana.

O projeto da Praça de Casa Forte, mais ou menos como o logradouro hoje conhecido, foi idealizado pelo paisagista Roberto Burle Marx, em 1934, quando o mesmo exercia o cargo de Diretor de Parques e Jardins do Governo do Estado de Pernambuco. O projeto original, por sua vez, destinava-se a uma área equivalente a 14.148,47 m2.

Seus vários jardins inspirados em moldes franceses foram projetados para apresentar, como ponto focal, dois espelhos d'água retangulares e um central, todos contendo plantas aquáticas - em particular, atrações como a vitória-régia amazônica e a aninga-açu -, rodeados por passeios intercalados por vegetação.

No primeiro jardim da Praça foram plantadas várias espécies da flora nativa brasileira: a aninga, a sibipiruna e um magnífico conjunto de paus-reis, que margeavam a avenida 17 de Agosto. Encontrava-se, além do mais, algumas espécies arbóreas oriundas da mata atlântica, como o abricó de macaco e o pau mulato. Não faltaram, também, certas espécies exóticas advindas de outros continentes (Ásia e África), tais como o flamboyant, a cassia siamea felício e palmeiras diversas.

Ao conceber um espaço livre, público, inserido dentro da malha urbana, o projeto de Burle Marx - todo feito em bico de pena - ressaltava não apenas o aspecto paisagístico, criando cenários de rara beleza, mas ainda a questão ecológico-ambiental. Segundo a opinião de alguns especialistas, o logradouro se enquadra na categoria de 'praça de profundidade' em relação à igreja, que se situa ao fundo, pois seus elementos de composição estão distribuídos simetricamente em direção à fachada principal daquela construção.

Vale a pena registrar, além disso, que na Praça de Casa Forte residiram várias pessoas ilustres. Uma delas foi o líder político pernambucano Oswaldo Lima, que residiu na casa número 454. Ele teve uma grande influência no governo de Agamenon Magalhães, sendo chamado, inclusive, de Marechal da Vitória, por conta de sua grande liderança política. Na mesma casa residiu, também, um dos seus filhos - Oswaldo Lima Filho -, que foi deputado federal, por várias legislaturas, e ministro da agricultura no Governo João Goulart.

Na casa número 388, o Padre Donino da Costa Lima constrói uma casa para morar. Hoje, ela se constitui na residência paroquial. Por sua vez, em um pedaço de terreno cedido por Oswaldo Lima, seu irmão, e que fazia parte de sua residência, o Padre Donino ergue uma escola que vem a ter o seu nome. Neste tradicional estabelecimento de ensino de 1o. Grau lecionou, dos quinze anos até à sua morte, aos noventa anos de idade, a dedicada e competente professora Iracema da Costa Lima - mais conhecida como Ceminha -, irmã de Oswaldo e de Padre Donino. Ela residia na casa número 365.

E o conhecido professor Dácio Rabelo, que lecionou geografia a muitas gerações em Pernambuco, morou na casa número 426.

Na atualidade, a gastronomia, o esporte e o lazer andam juntos na Praça de Casa Forte. Pode-se nela observar um café bastante freqüentado pelos recifenses, com suas mesas e cadeiras dispostas na calçada, uma creperia (ao lado do Café), algumas lojas, uma casa de chá, um cartório, uma casa dedicada a ministrar cursos de inglês e espanhol, entre outros. Adultos e crianças circulam pelas calçadas e jardins. Por vezes, distraem-se alimentando os peixes existentes nos espelhos d'água. Chama a atenção, também, a presença de pessoas de diversas gerações, na Praça, de madrugada e ao entardecer, praticando caminhadas diárias ou utilizando as calçadas e os jardins para fazer os seus exercícios.

Mais recentemente, contudo, a Praça vem mudando o seu visual. Uma série de arranha-céus está sendo construída em seus arredores, o que dará lugar a uma verdadeira selva de pedra. Para tanto, foram arrancadas quase todas as árvores presentes e isto contribuiu para a devastação das áreas verdes. Somente algumas casas antigas conseguiram ser preservadas à frente dos edifícios, como "salões de festa". A Praça de Casa Forte, portanto, perde pouco a pouco a sua antiga caracterização.

Todos os anos, no mês de novembro, além disso, a paróquia da Matriz de Casa Forte realiza a Festa da Vitória-Régia. Antigamente, tratava-se de uma pequena festa de bairro, mas tal festividade adquiriu, no presente, uma outra dimensão: tornou-se um mega-espetáculo que já está incluído no programa turístico do Estado.

Faz-se necessária a preservação da praça de Casa Forte, para que a população pernambucana não perca o tão antigo, famoso e histórico logradouro público.

Fontes consultadas:

BRAGA, João. Trilhas do Recife: guia turístico, histórico e cultural. [Recife : s.n.], 2000. p. 156.

CASA Forte. Pesquisa escolar. Disponível em: http://www.fundaj.gov.br/docs/pe/pe0077.html Acesso em 11 nov. 2002.

FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife: estátuas e bustos, igrejas e prédios, lápides, placas e inscrições históricas do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.

PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE. Secretaria de Planejamento Urbano e Ambiental. Cadastro de parques, praças e refúgios da cidade do Recife. Recife, 2002.

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