quarta-feira, 20 de maio de 2009

PONTE D'UCHOA (localidade, Recife)

PONTE D'UCHÔA

Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco



A localidade chamada hoje de Ponte D’Uchoa era, originariamente, um caminho estreito e sinuoso, de propriedade do capitão Henrique Martins, que servia de acesso aos engenhos de Casa Forte, Monteiro, Apipucos e, por último, Dois Irmãos. Partia do extremo oeste da Boa Vista, situando-se à margem esquerda do rio Capibaribe. Somente com a extinção dos engenhos, no princípio do século XIX, aquele caminho passa a apresentar um traçado mais regular.

No passado, porém, aquelas terras eram chamadas de Sítio Guardez. O general Matias de Albuquerque, em seus informes aos reis de Portugal, logo depois da invasão flamenga, também se referia à localidade como Sítio Guardez. O nome parece ter sido uma referência a um dos antepassados de Inês Guardez de Andrade, conforme registrado em uma crônica de 1633:

[...] Em conseqüência, chama aquele general o governador dos índios de D. Antônio Filipe Camarão, e ordena-lhe que com o corpo do seu comando se emboscasse no sítio chamado Guardez, que domina o rio, e aos capitães Luís Barbalho, Manuel Rabelo da França, Miguel de Abreu e outros, que se formassem com oitocentos homens em Parnamirim, nas imediações daquele sítio, para o que pudesse suceder.

A expressão Ponte D’Uchoa, por outro lado, era o apelido de um capitão que, no século XVII, foi senhor de engenho da Torre. Ele se chamava Antônio Borges Uchoa e havia lutado contra os holandeses.

Certa ocasião, Antônio decide construir uma ponte, próxima à foz do rio Parnamirim, com o objetivo de poder visitar, com mais freqüência, os familiares de sua esposa, que residiam na margem oposta do Capibaribe. A partir daí, colocaram-lhe o apelido de Ponte do Uchôa. Isso ocorreu depois de 1654, época em que Antônio tomou posse do Engenho da Torre.

Através de uma escritura lavrada no dia 8 de janeiro de 1766, e sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição da Ponte d’Uchoa, Henrique Martins - um outro proprietário das terras - manda construir uma capela em uma zona que era chamada de trecho das Jaqueiras.

Em 1782 - ano da morte de Henrique Martins -, devido ao envolvimento do proprietário em um processo de desfalque, na tesouraria do bispado de Pernambuco, suas terras e todos os demais bens vão a leilão e são arrematados por Domingo Afonso Ferreira. Este, em 1817, vende a propriedade a Bento José da Costa, um coronel de milícias português e comandante de um corpo da guarnição do Recife, que ainda era um abastado comerciante. Bento manda construir uma casa com dois pavimentos, para servir como sua residência, assim como um pavilhão de jogos, e também dispensa um tratamento luxuoso à Capela de Nossa Senhora da Conceição.

Quando ele falece, em fevereiro de 1834, os seus ossos são colocados em um mausoléu no altar-mor da capela, e lá permanecem até os dias de hoje.

Da residência de Bento José, não sobrou qualquer vestígio. A última notícia oficial que se possui vem de 1858, data em que o sr. Manoel José da Costa - tutor dos órfãos do comendador José Ramos de Oliveira, o derradeiro dono daquelas terras -, manda demolir a construção, loteia a propriedade e vende os terrenos a vários compradores.

Fontes consultadas:

COSTA, F. A. Pereira da. Arredores do Recife. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1981.

GALVÃO, Sebastião de Vasconcellos. Diccionario chorografico, histórico e estatístico de Pernambuco. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1908. 4v.

GUERRA, Flávio. Velhas igrejas e subúrbios históricos. Recife: Fundação Guararapes, 1970.

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