quarta-feira, 20 de maio de 2009

OLIVEIRA LIMA , MANUEL

OLIVEIRA LIMA (Manuel)

Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco


No dia 25 de dezembro de 1867, em um sobrado da antiga rua Corredor do Bispo número 813, no Recife, hoje chamada de rua Oliveira Lima, nasce o pesquisador, jornalista e historiador Manoel de Oliveira Lima. Seu pai era o comerciante português Luís de Oliveira Lima e, sua mãe, Maria Benedita Miranda, uma brasileira nascida no Rio Formoso, em Pernambuco.

Em 1873, com seis anos de idade, o menino Manuel parte com os pais para viver em Portugal. Lá concluiu o ensino fundamental e médio, respectivamente, no colégio dos Lazaristas e na Escola Acadêmica, ambos em Lisboa. Ingressou na Escola Superior de Letras em 1885, período em que dá início à sua correspondência com o Jornal do Recife. Nela, ele passa a elaborar artigos sobre as artes plásticas e o movimento teatral de Lisboa, e tecer comentários sobre a política inglesa.

Dominando perfeitamente as línguas francesa e inglesa, além da portuguesa, Oliveira Lima finaliza o curso superior em 1887, e manifesta interesse para a carreira diplomática e a área de História. Apesar de nutrir uma grande admiração pela família imperial portuguesa - em particular, por Dom João VI - o jovem Manuel se torna um republicano.

Ele retorna ao Recife dezessete anos depois - em setembro de 1890 -, por ocasião do falecimento do seu pai. Apaixona-se, então, por Flora Cavalcanti, uma jovem professora de inglês e francês nascida no engenho Cachoeirinha, na cidade de Vitória de Santo Antão, e que lecionava no Poço da Panela, no Recife. Dez meses depois, o casamento civil - por procuração -, foi realizado em Cachoeirinha, e o casamento religioso teve lugar em Lisboa. Com Flora, Manuel viveu durante toda a sua vida. Contudo, o casal nunca teve filhos.

Oliveira Lima embarca para a Alemanha em 1892, após ter sido nomeado Secretário da Legação do Brasil, em Berlim. Nesta cidade, em 1894, ele publica o seu primeiro livro: Pernambuco - seu desenvolvimento histórico; e, posteriormente, edita um novo trabalho: Aspectos da literatura colonial brasileira. Ele funda também o Jornal Correio do Brasil, em Lisboa; e, ainda jovem, colabora com a Revista Brasileira e se torna correspondente de vários jornais: o Jornal do Recife, o Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, e O Estado de São Paulo.

Em 1896, Manuel Oliveira Lima ingressa na carreira diplomática, como secretário da Legação do Brasil em Washington. Entretanto, devido a um grave desentendimento com um dos seus superiores - no caso, Assis Brasil -, que quase termina em duelo, o diplomata é transferido para Londres, em janeiro de 1900. Nesta cidade, ele publica os livros Nos Estados Unidos, Memória sobre o descobrimento do Brasil e Reconhecimento do Império. É ainda nesta cidade que Oliveira Lima estreita suas relações de amizade com um brasileiro: Joaquim Nabuco, o líder abolicionista pelo qual nutria uma grande admiração. Como esse último era muito sensível às críticas, de um modo geral, e o diplomata sempre expressava a sincera opinião sobre os fatos, a amizade entre os dois foi rompida.

De Londres, Oliveira Lima seguiu para a cidade de Tóquio, no Japão, onde permaneceu por dois anos como representante e embaixador do Brasil. Nessa cidade ele publica um novo livro: No Japão. O grande desejo do historiador-diplomata, contudo, era servir na Europa, uma vez que dera início à obra Dom João VI no Brasil e suas principais fontes documentais se encontravam em Londres, Lisboa, Paris e Viena. Sendo assim, ele solicita sua transferência para Londres, mas, em decorrência de sua simpatia pelo sistema monárquico (ele sempre enaltecia os benefícios que a monarquia trouxe para a formação e o progresso do Brasil), o Barão de Rio Branco não atende ao seu pedido - encorajado por Joaquim Nabuco e os seus colegas do Senado. O Chanceler sugere a transferência do diplomata para a cidade de Lima, no Peru. Muito aborrecido com o fato, Oliveira Lima não aceita o cargo.

Só após negociar com o Barão do Rio Branco por um ano e meio, Manuel é finalmente nomeado Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário do Brasil junto ao Governo da Venezuela. O pernambucano parte para Caracas, então, com a finalidade principal de negociar uma questão bastante delicada: a delimitação das fronteiras entre os dois países que, desde 1884, não conseguia ser resolvida. Naquele país, o diplomata permanece até o ano de 1906.

Como um dos primeiros literatos, Manuel Oliveira Lima assume uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, no dia 17 de julho de 1903. Dando prosseguimento à ordem cronológica, Bruxelas e Estocolmo constituem-se em novos pontos de destino para o diplomata. Em Bruxelas, ele publica Dom João VI no Brasil (em dois volumes), trabalho que considera representar sua obra principal. Em 1907, ele publica Panamericanismo e Cartas de Estocolmo.

Considerado como um importante intelectual, Oliveira Lima é convidado, em 1912, para dar conferências em várias universidades americanas. Um ano antes, na Universidade de Paris, o historiador pronuncia uma série de conferências por ele intituladas Formação da nacionalidade brasileira.

Devido à uma série de declarações nas quais ressaltava a superioridade do regime monárquico (em alguns aspectos), em relação à atual república (que ora cometia desmandos e agia de modo prepotente), e das pressões decorrentes das posturas adotadas, Oliveira Lima pede sua aposentadoria da vida diplomática em 1913. No entanto, o historiador pernambucano continua a produzir: publica o livro Na Argentina, colabora com vários jornais e revistas, leciona na Universidade de Lisboa a disciplina Estudos Brasileiros (em 1923); lança o livro D. Pedro I e D. Miguel, em 1925; e, em 1927, um outro: O Império brasileiro. O escritor sempre falava que redigia "com as cores que lhe ditavam o cérebro e o coração".

Por sua vez, ele temia que a herança cultural européia do Brasil se visse diminuída, caso o País seguisse a política externa dos Estados Unidos, ao invés de manter-se mais ligado à Europa - lugar de origem de suas tradições culturais e políticas. Defendendo uma política baseada em um contexto de bipolaridade, portanto, e avesso a qualquer tentativa de supremacia, Oliveira Lima - começando a contrariar os dogmas da política externa brasileira, válidos há muito tempo - criticava inclusive a Doutrina de Monroe, transformada em instrumento de expansão política e econômica de Washington. Através dessa Doutrina, que pregava o pan-americanismo, os Estados Unidos - na época governado por Theodore Roosevelt -, desejavam impor a sua liderança no continente sul-americano.

No tocante à modernização da diplomacia brasileira, Oliveira Lima declarava: "O imperialismo contemporâneo assenta sobre o negócio. A pujante democracia norte-americana nasceu do conúbio da liberdade com o interesse: os frutos da frondosa árvore são os pomos de ouro da antiga fábula. O dever primordial dos nossos governantes é tratar de colocar e tornar assim remuneradora a produção nacional, pois que sem fortuna não há vigor e sem vigor, não se pode infundir respeito". Neste sentido, o pensamento do historiador-diplomata acerca da condução dos negócios externos do Brasil - defendendo sempre a dignidade do seu País de origem - não coincidia com os objetivos prioritários do Barão de Rio Branco, tampouco lhe agradava.

O historiador morava em Londres quando estourou a 1a. Guerra Mundial. Por não concordar também com a doutrina dos Aliados, ele viaja da Europa para os Estados Unidos e fixa sua residência em Washington. Na manhã de 24 de março de 1928, quando ainda escrevia dois outros livros - D. Miguel no trono e Memórias - que foram publicados postumamente, ele vem a falecer naquela cidade. Todo o seu acervo bibliográfico - quarenta mil livros - é doado à Universidade de Washington. O diplomata-historiador foi enterrado no cemitério de Mount Olivet, na cidade onde residia. No túmulo do ilustre homem de letras, investigador de arquivos e leitor de papéis seculares, lê-se apenas as palavras que ele mais apreciava: "Aqui jaz um amigo dos livros".

O pernambucano Manuel Oliveira Lima, no início do século XX, foi um dos mais polêmicos e intelectualizados homens de letras do Brasil. Participou de importantes debates e levantou bandeiras que interessavam a toda a humanidade. Mesmo hoje, em se tratando das modernas relações internacionais, muitos ainda o consideram como uma das figuras mais representativas da diplomacia. Um famoso escritor sueco ressaltou que o historiador-diplomata era "o embaixador da intelectualidade brasileira". Como uma das homenagens que lhe foram feitas, na casa onde nasceu Oliveira Lima, no bairro da Boa Vista, no Recife, funciona hoje o Conselho Estadual de Cultura de Pernambuco.


Fontes consultadas:

CARDOZO, Manoel da Silveira. Oliveira Lima, diplomata da "belle époque". Ciência & Trópico, Recife, v. 9, n. 1, p. 35-50, jan./jun.1981.

DELGADO, Luiz. No centenário de Oliveira Lima. Estudos Universitários, Recife, n. 4. p. 43-54, out./dez. 1967.

GOUVÊA, Fernando da Cruz. Oliveira Lima, diplomata moderno. Cultura, Brasília, ano 8, n. 31, p. 82-91, jan./mar. 1979.

______. Oliveira Lima e o Recife. In: MELLO NETO, Ulysses Pernambucano de (Coord.). Calendário histórico do Recife - 1986. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1986.

OLIVEIRA Lima (foto). Disponível em: . Acesso em: 6 dez. 2007.

SILVA, Jorge Fernandes da. Vidas que não morrem. Recife: Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco, 1982.

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