quarta-feira, 20 de maio de 2009

NISE DA SILVEIRA

NISE DA SILVEIRA

Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco

Nise da Silveira nasceu no dia 15 de fevereiro de 1905, em Maceió, Estado de Alagoas. Seus pais foram Maria Lídia da Silveira (pianista), e Faustino Magalhães da Silveira (professor de matemática). Aos 16 anos de idade, a jovem entrou para a Faculdade de Medicina da Bahia, sendo a única mulher de sua turma.

Na época, cabe lembrar, excetuando-se as áreas de magistério e de enfermagem, a população feminina não tinha acesso às profissões da esfera pública. Nise formou-se aos 21 anos, com especialidade em psiquiatria, tendo apresentado, como monografia de final do curso, uma pesquisa com infratoras (ladras, assassinas e prostitutas) em um cárcere de Salvador. Casou com o médico sanitarista Mário Magalhães, partiu para o Rio de Janeiro e, durante seis anos, trabalhou no Hospital da Praia Vermelha.

Depois da revolta de 1935, como militante da Aliança Nacional Libertadora (ANL), foi acusada de ser comunista e presa, durante dezesseis meses, na Casa de Detenção da Rua Frei Caneca. Ao sair do cárcere, não conseguiu se reintegrar no mercado de trabalho; e, somente após o advento da anistia, pode voltar ao serviço público.

Ela jamais se conformou com os métodos violentos empregados para tratar os doentes mentais, nos hospícios. Radicalmente contra os procedimentos da época (confinamento, eletrochoques, insulinoterapia e lobotomias), a psiquiatra buscou alternativas para tratar a loucura, nas atividades voltadas para a expressividade. Considerava a idéia de inclusão, transformação e cura, através da arte, como base para o tratamento das doenças mentais, particularmente a esquizofrenia. Tal doença, ela afirmava, nada mais era que uma manifestação de vários “estados de ser”, desencadeados por situações extremas, responsáveis pela desagregação do ego.

Atendendo a uma de suas propostas, em 1946, o diretor do Centro Psiquiátrico Pedro II (hoje, Instituto Municipal Nise da Silveira), incumbiu-a de fundar a Seção de Terapêutica Ocupacional. Para tanto, a médica distribuiu lápis, papel, pincéis e telas com os pacientes do Centro Psiquiátrico Nacional. Com esses instrumentos, plantou as sementes de suas idéias: a humanização e a arteterapia. Os métodos eram tão revolucionários que, até, o famoso psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, elogiou seu trabalho. Hoje, a área que desenvolveu denomina-se Terapia Ocupacional.

Em 1952, reunindo o material produzido nos ateliês de pintura e modelagem, fruto da produção artística dos pacientes, Nise fundou o Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro, com um acervo de mais de 300 mil trabalhos. Este Museu originou-se da Seção do Centro Psiquiátrico Pedro II. No início, os ateliês eram voltados para as diversas linguagens artísticas, incluindo música, dança, teatro, artesanato, pintura e xilogravura. Com o passar do tempo, porém, as áreas de pintura e modelagem assumiram posições de destaque.

Nise fundou, também, a Casa das Palmeiras - uma clínica de reabilitação, em regime de externato, voltada para egressos de hospitais psiquiátricos, e onde voluntários dirigiam as oficinas de arte.

Em setembro de 1957, participou do II Congresso Internacional de Psiquiatria, em Zurique, e apresentou o trabalho Expérience d'art spontané chez des schizophrènes dans un service de therapeutique occupationelle (em colaboração com o Dr. Pierre Le Gallais). Ainda neste Congresso, expôs uma parte do acervo do Museu de Imagens do Inconsciente. A exposição foi aberta pelo próprio Dr. Jung, em reconhecimento ao relevante trabalho desenvolvido por Nise.

A médica brasileira participou como membro e fundadora da Societé Internationale de Psychopathologie de l'Expression, com sede em Paris, em 1960; e, em 1965, promoveu a publicação do primeiro número da revista QUATERNIO, editada pelo Grupo de Estudos C.G.Jung.

Entre outros, publicou os seguintes livros: Ensaio sobre a criminalidade da mulher no Brasil, Imprensa Oficial do Estado, 1926; Jung Vida e Obra, Editor José Álvaro, 1968; Terapêutica Ocupacional - Teoria e Prática, Edição Casa das Palmeiras, 1979; Os cavalos de Octávio Ignácio (Org.) Funarte, 1980; Coleção Museus Brasileiros, Funarte, 1980; Casa das Palmeiras, Alhambra, 1986; A Farra do Boi, Numen, 1989; Artaud - a nostalgia do mais (com Rubens Correa, Marco Lucchesi e Milton Freire), Númem, 1989; Cartas a Spinoza, Númem, 1990; O mundo das imagens, Ática, 1992; Gatos, Léo Christiano Editorial, 1998. Publicou, também, cerca de vinte textos em periódicos científicos nacionais; e organizou e supervisionou mais de cem exposições realizadas pelo Museu de Imagens do Inconsciente, bem como exposições no exterior.

No tocante a prêmios, títulos e homenagens, ela recebeu: o troféu Golfinho de Ouro, do Museu da Imagem e do Som do Estado da Guanabara, em 1971; o Prêmio Personalidade Global Feminina, pelo jornal O Globo e a Rede Globo de Televisão, em 1981; a Medalha de Mérito Oswaldo Cruz, na Categoria Ouro, em 1981; a Comenda Desembargador Mário Guimarães, outorgada pela Assembléia Legislativa do Estado de Alagoas, em 1983; o título Benemérito do Estado do Rio de Janeiro, pela Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, em 1984; a condecoração Ordem do Rio Branco no Grau de Oficial, pelo Ministério das Relações Exteriores, em 1987; o título de Professor Honoris Causa, pela Escola de Ciências Médicas de Alagoas, em 1988; o título de Professor Honoris Causa, pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em 1988; a Medalha do Mérito da Fundação Joaquim Nabuco, em 1989; a Medalha Peregrino Júnior, da União Brasileira de Escritores, em 1992; e outros.

A partir dos seus trabalhos, foram criadas as seguintes instituições: a Sociedade Amigos do Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro; a Association Nise da Silveira Images de L'Inconscient, em Paris; o Museo Attivo delle Forme Inconsapevoli, em Genova; o Centro de Estudos Nise da Silveira, em Juiz de Fora/MG; o Museu Bispo do Rosário Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro; o Espaço Nise da Silveira Núcelo de Atenção Psico-Social, no Recife/PE; o Centro de Estudos Imagens do Inconsciente, na Universidade do Porto, em Portugal; a Fundação Clube Terapêutico Nise da Silveira, em Salvador/BA; o Núcleo de Atividades Expressivas Nise da Silveira, no Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre; e a Associação de Convivência Estudo e Pesquisa Nise da Silveira, em Salvador/BA.

E o cineasta Leon Hirszman produziu o filme Imagens do inconsciente, com quadros pintados pelos internos, e roteiro elaborado pela própria médica. A película popularizou, ainda mais, seu trabalho revolucionário, divulgando a humanização do tratamento psiquiátrico no país.

Aos 94 anos, no dia 30 de outubro de 1999, no Rio de Janeiro, faleceu a renomada Nise da Silveira, uma mulher brasileira que sempre esteve muitos anos-luz à frente dos demais mortais.

Fontes consultadas:

A arte no caminho da cura. Disponível em:http://www.pitoresco.com.br/espelho/destaques/inconsciente/inconsciente.htm Acesso em: 1 fev. 2009.

DANÇA como terapia. Disponível em:http://www.sms.fortaleza.ce.gov.br/sms_v2/Noticias_Detalhes.asp?noticia=170 Acesso em: 1 fev 2009.

IMAGENS do inconsciente para visão e reflexões. Disponível em:http://www.millarch.org/artigo/imagens-do-inconsciente-para-visao-reflexoes Acesso em: 1 fev. 2009.

PARCERIA FAOP e Caps favorece a inclusão social. Disponível em:http://www.faop.mg.gov.br/?action=noticias&sec=1&con=125&limitstart=45 Acesso em: 1 fev. 2009.

SCHUMAHER, Schuma; BRAZIL, Erico Vital (Org.). Dicionário mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.

SILVEIRA, Nise da. Disponível em:http://www.museuimagensdoinconsciente.org.br/html/nise.html Acesso em: 1 fev. 2009.

TRILHA da inclusão. Disponível em:http://www.inverso.org.br/index.php/content/view/15065.html Acesso em:1 fev. 2009.

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