quarta-feira, 20 de maio de 2009

MAMONA

MAMONA

Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco


A mamoneira (Ricinus Communis Lineu) é uma oleaginosa tropical, pertencente à família Euphorbiaceae, que, pela importância do fruto - a baga - na produção de óleo, e devido ao seu valoroso resíduo - a torta - é considerada uma planta estratégica para o desenvolvimento do Brasil. A mamona é conhecida desde os tempos mais remotos. Na Antiguidade, ela era valorizada pelas propriedades medicinais, e por seu azeite que, aceso, servia para a iluminação. Os egípcios, em particular, há 4.000 anos, já costumavam depositar nos sarcófagos as sementes dessa planta.

Não se sabe ao certo qual foi o seu país de origem. Uns afirmam que a mamoneira originou-se da África; e, outros, ressaltam que ela veio da Ásia. No que se refere à presença no Brasil, os estudiosos acreditam que os colonizadores portugueses a trouxeram para cá, no primeiro século do Descobrimento. Seu óleo era empregado como lubrificante, nos mancais dos engenhos de cana-de-açúcar, sendo conhecido como o mais eficaz dos óleos destinados a reduzir ou anular atritos.

A mamoneira tolera as secas e se adapta muito bem nas regiões semi-áridas, mas não é exclusiva destas regiões. Trata-se de uma planta exigente, de hábito arbustivo, não sendo verdade que produz, até mesmo, em terrenos pobres. Nestes espaços, os produtores necessitam aumentar a fertilidade através da aplicação de adubos, uma vez que sua cultura não se apresenta econômica. Além disso, a mamoneira não deve ser plantada no mesmo lugar por mais de dois anos seguidos. Aconselha-se, por exemplo, que se faça a rotação de culturas com leguminosas.

O caule da mamoneira apresenta várias colorações, podendo possuir cera, ou não. Os frutos, quase sempre, possuem espinhos e, em alguns casos, são inermes; e suas sementes apresentam formatos e tamanhos variados, bem como algumas colorações. Existem dois tipos de mamoneira: 1. o deiscente, cuja cápsula libera as sementes a uma temperatura superior a 25 graus centígrados, conhecido por estaladeira; e, 2. o indeiscente, cuja cápsula não se abre sob a ação do calor do sol. No tocante às sementes, cabe informar que o teor de óleo varia, proporcionalmente, à soma do calor recebido pela planta no ciclo vegetativo.

No final do ciclo, os cachos da mamoneira, já secos, são colhidos mediante uma única operação, e o descasque mecânico é obrigatório. As máquinas promovem a fricção dos frutos, liberando as sementes. A seguir, estas são separadas da casca do fruto e prensadas. O óleo extraído nesse processo é uma fonte quase pura de ácido graxo ricinoléico (conhecido também como óleo de rícino), cuja cadeia carbônica lhe confere propriedades singulares.

O óleo empregado na indústria química possui mais de seiscentas utilidades, variando da produção de vernizes, corantes, tintas, anilinas, nylon, desinfetantes, germicidas, fungicidas, inseticidas, lubrificantes de alta viscosidade, colas e aderentes, tintas de impressão, biodiesel, até a fabricação de próteses para transplantes em órgãos humanos. Também é matéria-prima para a formulação de produtos biodegradáveis.

Embora apresente toxidez, a torta da mamona vem sendo utilizada há muito tempo como adubo orgânico restaurador do solo, atuando mais lentamente que os usuais adubos químicos. A torta possui também algum efeito nematicida. A sua composição, se comparada à da semente do algodão, apresenta vantagens em relação aos percentuais de nitrogênio (N) e fósforo (P), ficando atrás, somente, em quantidade de potássio (K). No presente, foram desenvolvidas algumas técnicas que eliminam a toxidez, melhorando os seus efeitos. E, hoje, o óleo já é usado como matéria-prima para a produção de biodiesel.

Não são, apenas, o óleo e a torta que têm aplicações relevantes: da mamona, tudo se aproveita. As folhas servem de alimento para uma espécie de bicho-da-seda; e a haste, além de celulose apropriada para a fabricação de papel, fornece ainda matéria-prima para a produção de tecidos. Na década de 1930, os pesquisadores descobriram que o óleo da mamona era um ótimo lubrificante, quando puro. Adicionado ao álcool, era utilizado como sucedâneo da gasolina em motores de explosão. Em países de língua inglesa, como a Inglaterra e os Estados Unidos, a mamona recebe as denominações castor beans e castor seed.

Desde a Segunda Guerra Mundial, o Brasil tem se destacado como o maior produtor e exportador de sementes e óleo de rícino (castor oil). Anteriormente, essa posição pertencia à Índia. Por ordem de importância, os países que mais produzem mamona são os seguintes: Brasil, Índia, China, Tailândia, Paraguai, entre outros.

Com o advento do Protocolo de Kyoto, em 14 de dezembro de 1997, onde os países desenvolvidos se comprometeram a reduzir a emissão de gás carbônico (CO2), passou-se a exigir uma só tendência para o setor de energia: o crescimento mundial dos biocombustíveis. Tal exigência é fruto da poluição do meio ambiente, do esgotamento das reservas de combustíveis fósseis, de legislações ambientais cada vez mais rigorosas.

Por apresentar extensas áreas agricultáveis, o Brasil despontou como um grande promotor de mudanças. E o Nordeste do Brasil, em particular, uma das regiões mais carentes em desenvolvimento, possui extensas áreas para o plantio de oleaginosas - a mamoneira em particular - já que ela convive com seus índices pluviométricos e se adapta bem às condições de sequeiro.

Neste sentido, desde 2005, o Piauí vem desenvolvendo um programa energético mediante a produção de biodiesel, tendo como fonte a mamona, que faz parte do modelo nordestino de agricultura familiar. Naquele Estado, o cultivo da mamoneira envolve o trabalho de, aproximadamente, 5.000 famílias, em 15.000 hectares de terra. Na cidade de Canto do Buriti, por exemplo, a empresa Brasil EcoDiesel executa um projeto de plantio que, no início, inclui cerca de 560 famílias, em uma área de 10.000 hectares. O Governo do Piauí disponibilizou a área para ser explorada, durante dez anos, com tal finalidade. Decorrido esse tempo, as terras passarão a pertencer, em definitivo, às famílias que as cultivam com mamoneira.

Existe um outro projeto de cooperação entre o Governo Federal, o Governo Estadual, a Embrapa Meio-Norte-Piauí e o Sebrae-Piauí, cujo objetivo é o desenvolvimento sustentável e integrado da região semi-árida do Estado. Esse projeto é financiado pelo Banco do Brasil, pelo Sebrae e Fundação Banco do Brasil, envolvendo 1.800 famílias de agricultores, de 14 municípios da região de São Raimundo Nonato, que receberão capacitação tecnológica para o cultivo da mamona. A previsão para a execução do projeto é de três anos, e a safra deverá ser comercializada com a empresa Brasil EcoDiesel.

Nas regiões semi-áridas piauienses, o cultivo da mamoneira engloba outras vertentes da cadeia produtiva de biocombustíveis. É o caso da Usina Escola de Produção de Biodiesel que, desde outubro de 2004, está em operação na Universidade Federal do Piauí (UFPI). A Usina Escola tem como objetivos a produção de biodiesel, o treinamento de alunos de graduação e pós-graduação, além do desenvolvimento de pesquisas e novas tecnologias para a produção de biocombustíveis.

Fontes consultadas:

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AZEVEDO, Demóstenes M. Pedrosa de et al. População de plantas no consórcio mamoneira/milho. I. Produção e componentes de produção. Revista de Oleaginosas e Fibrosas, Campina Grande, PB, v. 2, n. 2, p. 141-146, maio/ago. 1998.

BIOCOMBUSTIVEL do Piauí – a energia que vem da mamona. Disponível em:
Acesso em: 20 abr. 2008.

CORRÊA, Manuel Pio. Dicionário das plantas úteis do Brasil e das exóticas cultivadas. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1926-1978.

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FREITAS, Silene Maria de; FREDO, Carlos Eduardo. Biodiesel à base de óleo de mamona: algumas considerações. Informações Econômicas, São Paulo, v. 35, n. 1, jan. 2005.

HEMERLY, Francisco Xavier. Mamona: comportamento e tendências no Brasil. Brasília: Embrapa, 1981. (Série Documentos n. 2)

LIMA, Emídio Ferreira; SANTOS, José Wellington dos. Correlações genotípicas, fenotípicas e ambientais entre características agronômicas da mamoneira (Ricinus communis L.). Revista de Oleoginosas e Fibrosas, Campina Grande, PB, v. 2, n. 2, p. 147-150, maio/ago. 1998.

MAMONA. Disponível em:

PROJETO pró-mamona. Disponível em:

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SILVA, Arnaldo da. Mamona: potencialidades agroindustriais do Nordeste brasileiro. Recife: Sudene – ADR, 1983.

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