terça-feira, 19 de maio de 2009

IGREJA E MOSTEIRO DE SÃO BENTO (OLINDA)

IGREJA E MOSTEIRO DE SÃO BENTO (Olinda)
Semira Adler Vainsencher
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco


Em 1592, o terceiro donatário de Pernambuco - Jorge de Albuquerque Coelho - solicitou à Ordem de São Bento, em Portugal, que enviasse à capitania alguns religiosos beneditinos. Para tanto, fez avultadas doações em bens territoriais para o patrimônio da nova ordem religiosa, concedendo-lhe, ainda, inúmeras vantagens, isenções e regalias.

Nas proximidades do Varadouro da Galeota, no ano de 1597, os padres adquiriram um sítio denominado Olaria, que depois foi ampliado através da aquisição de mais três lotes circunvizinhos. As obras de construção do mosteiro ficaram prontas em 1599.

Naquela época, o templo se chamava Mosteiro do Patriarca São Bento da vila de Olinda. No entanto, o incêndio ocorrido em 25 de novembro de 1632, deflagrado pelos holandeses, arruinou a construção. Dela, porém, conseguiu-se salvar a relíquia mais preciosa: seu arquivo. De meados a fins do século XVIII, os religiosos decidiram demolir o que havia sobrado do mosteiro, dando lugar à construção de um novo prédio, que é o atual.

Como o mosteiro vinha sendo mantido pela Ordem Beneditina, os frades foram morar em um sobrado do Recife. Este local, em documentos da época, foi descrito da seguinte forma: nos altos de uma casa de dois sobrados situada na rua da banda do mar que vai para a travessa da praça dos judeus. Pouco a pouco, a antiga construção foi restaurada e voltou a funcionar em 1640.

Um dos antigos registros do mosteiro evidencia que, nos primeiros anos do século XVIII, a comunidade beneditina de Olinda vivenciou um período bastante conturbado. Isto começou quando o abade Dom Diogo Rangel foi acusado de ter assassinado uma senhora casada.

Para substituí-lo na direção da abadia, veio de Lisboa o religioso Dom Luís. Os demais religiosos, contudo, se recusaram a obedecer ao estrangeiro novato, alegando que ele possuía a mesma patente do padre-geral. Desse modo, um espetáculo foi montado: um insistia em assumir o posto, e os outros, intransigentes, decidiam não acatá-lo como superior.

Depois de consultar várias pessoas letradas, o Governador da Capitania ordenou, então, que o mosteiro fosse cercado pelo terço de infantaria. Quando isso ocorreu, a única alternativa que os religiosos tiveram foi abandonar o convento. Nos bastidores da sacristia, dizia-se que Dom Diogo Rangel voltaria ao seu posto regular, já que não fora provada sua culpa no referido homicídio. E Dom Luís, por outro lado, na véspera da partida para Lisboa, teria costurado um saco na sua batina, e colocado dentro dele um sem número de objetos, de grande valor, do mosteiro. Desafortunadamente, seu navio naufragou, todos morreram, e os artefatos de ouro e de prata, pertencentes aos beneditinos do Mosteiro de São Bento, se acomodaram no fundo do oceano.

Com toda a paciência beneditina, em meados do século XVIII, o mosteiro foi totalmente reconstruído e decorado, como o Mosteiro de Tibães, em Portugal. Nessa reforma, ampliou-se o corpo da igreja (cujo claustro permanecera inacabado desde o ano de 1764), construíram-se novas tribunas, a torre do campanário, e levantaram o atual frontispício. Como a igreja do mosteiro foi restaurada em épocas distintas, ela possui, hoje, um estilo neoclássico. No óculo da portada vê-se a data 1761; no alto da fachada lateral lê-se 1779; e, na sacristia, há uma outra inscrição: ANNO DOMINI 1783.

O projeto do frontispício foi obra do mestre-pedreiro Francisco Nunes Soares, que também foi autor das fachadas da Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres dos Montes Guararapes, e da capelinha de Nossa Senhora da Conceição da Jaqueira. Em 1860, o mosteiro passou por outra reforma e recebeu novo douramento. De todos esses trabalhos, resultou um dos mais belos exemplares da arte religiosa colonial brasileira.

Algumas imagens valem a pena ser apreciadas no acervo do mosteiro: a do Crucificado do coro, e a do Menino Jesus de Olinda – uma escultura em barro cozido, feita por Frei Agostinho da Piedade, entre 1635 e 1639. No mosteiro de São Bento, em 1640, foi sepultado o sargento mor Pedro de Arenas, com grande pompa, e os religiosos fizeram, em sua homenagem, um ofício de corpo presente.

A fachada do mosteiro é de cantaria, sem pintura, e algumas armas figuram no frontispício da igreja. As portas de acesso ao coro, bem como as janelas laterais da nave apresentam ornatos trabalhados e balaústres torneados. Os púlpitos são feitos em talha dourada e encimados por baldaquino com dossel. No trono principal do altar, toda em madeira e revestida em ouro, encontra-se a imagem do patriarca São Bento.

A capela-mor da igreja do convento, em estilo barroco, pela sua ornamentação e douramento, é uma das mais belas do Brasil. O altar-mor, por sua vez, ressalta aos olhos pelo esplendoroso trabalho em talha dourada.

Em 2001, o altar da igreja foi totalmente desmontado e restaurado pela Fundação Joaquim Nabuco, e, no ano seguinte, foi transportado para os Estados Unidos, ficando exposto no Museu Guggenheim, de Nova York. Encontram-se nesse altar, ainda, as imagens de São Bento e de Santa Escolástica.

No mosteiro podem ser apreciadas sanefas de talha dourada, grades de jacarandá e pinturas de episódios da vida de São Bento. Em algumas das salas, encontram-se retratos de velhos abades e mestres da ordem beneditina no país. Tais retratos, segundo a opinião de especialistas, foram tão mal retocados que, hoje, mais parecem caricaturas.

Uma das mais ricas de Pernambuco é a sacristia do mosteiro. Nela, em 1785, trabalhou o pintor e dourador José Eloy da Conceição, autor de outros trabalhos, inclusive, na Igreja de São Pedro dos Clérigos e na Matriz de Santo Antônio, no Recife. Foi José Eloy que elaborou a pintura de três grandes painéis do forro, que evidenciam algumas cenas da vida de São Bento.

Na sacristia, observa-se uma pintura de São Sebastião, em óleo sobre madeira, pertencente à escola italiana e elaborada no século XIV, que foi transportada para o mosteiro em fins do século XIX; espelhos de cristais; painéis ressaltando a vida penitente de São Bento; além de obras entalhadas em jacarandá e um grande lavabo, esculpido em mármore policromado e confeccionado em Estremoz, Portugal. Em cima desse lavabo, destacam-se quatro golfinhos que escorregam por baixo de um globo decorado.

Presentes na rica sacristia monástica estão, ainda, um retábulo de talha dourada e um painel retratando Nossa Senhora das Dores. O frontispício do templo, no entanto, é primitivo, com volutas em cantaria e o brasão da Ordem Beneditina. Localizado na única torre do templo beneditino, seu carrilhão de sinos é o mais sonoro de Olinda.

Existe um grande oratório do coro superior de São Bento, que foi entalhado no mesmo estilo das obras da cidade de Braga, em Portugal. A portaria do convento é primitiva, com portas coloniais que dão acesso ao claustro. Neste, por sua vez, estão sepultados vários monges da abadia.

As janelas da galeria apresentam guarda-corpos decorados e, no altar-mor, há um retábulo de influências barroca, neoclássica e rococó. A capela possui uma porta de duas folhas contendo adornos, uma porta lateral em arco, um teto pintado, um altar e um retábulo com nichos dourados.

Em se tratando de trabalhos de madeira, é possível apreciar três cadeiras de braços que apresentam altos espaldares, rodeados por painéis de abacaxis, equipados com cruzetas que aparecem nas mesas; dois armários embutidos na parede da sacristia; e cadeiras semelhantes às da Igreja de São Pedro dos Clérigos do Recife, baseadas em modelo português, cujas guardas, pernas e braços são entalhados com ornamentos rococó.

De acordo com documentos datados de 13 de setembro de 1850, o mosteiro possuía, na época, os seguintes bens: 16 casas de sobrado, 24 casas térreas (quase todas, no Recife), prédios rústicos, uma fazenda de plantação, um engenho de açúcar movido à água (em Mussurepe), um sítio de lenha com casa de vivenda (em Beberibe), além de 254 escravos.

Hoje, o Mosteiro de São Bento vem se mantendo, graças ao seu patrimônio, e às doações recolhidas nas capelas da Igreja de Nossa Senhora do Monte, de Olinda, e da Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres dos Montes Guararapes.


Fontes consultadas:

BARBOSA, Antônio. Relíquias de Pernambuco. São Paulo: Fundo Educativo Brasileiro, 1983.

DUARTE, Luiz Vital. Olinda na formação da nacionalidade. Recife: Imprensa Universitária da UFRPE, 1976.

FREYRE, Gilberto. Olinda: 2º guia prático, histórico e sentimental de cidade brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968.

MOSTEIRO de São Bento. Almanach de Pernambuco, Recife, ano 17, p. 65-68, 1915.

MOSTEIRO de São Bento. In: GALVÃO, Sebastião de Vasconcelos. Diccionario chorographico, historico e estatistico de Pernambuco. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1927. v. S a Z. p. 93.

MUELLER, Bonifácio. Olinda e suas igrejas: esboço histórico. Recife: Livraria Pio XII, 1945.

SILVA, Leonardo Dantas. Pernambuco preservado. Recife, 2002.

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