terça-feira, 19 de maio de 2009

IGREJA DE SÃO PEDRO DOS CLÉRIGOS, Recife, PE

IGREJA DE SÃO PEDRO DOS CLÉRIGOS (Recife, PE)

Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco



Apresentando duas elegantes torres simétricas, com tochas nas quinas, e uma cúpula imponente, a catedral de São Pedro dos Clérigos representa uma das obras arquitetônicas religiosas mais expressivas de Pernambuco. Ela possui um estilo barroco, advém do princípio do século XVIII (quando foi instituída a Irmandade de São Pedro dos Clérigos no Recife), e está localizada no bairro de Santo Antônio. A sua construção começou em 1728, mas a igreja só pôde ser sagrada no dia 30 de janeiro de 1782.

Segundo o pesquisador José Luiz Mota Menezes, a catedral possui uma grandiosa e refinada arquitetura de concepção: uma fachada rica, que desemboca em pátios exíguos, uma contrafacção principal, espelhando o século XVIII, e um interior que traz a marca do século XVII.

A planta da construção foi idealizada por Manuel Ferreira Jácome, um competente mestre-pedreiro. Ressaltam alguns técnicos em arte religiosa que a igreja possui uma nave octogonal sobre um desenho elíptico, e peanhas (pequenos pedestais onde se assentam imagens) octogonais. Os pináculos (pontos mais altos) das duas torres, e a cúpula pequena sobre um tambor octogonal, são desenhos emprestados das torres de Braga, cidade ao norte de Portugal. A frente do templo tem um gradil de ferro que separa o átrio do pátio, e a porta principal encontra-se ladeada por colunas duplas.

Internamente, o teto e algumas laterais evidenciam belas pinturas (em tom sombrio) feitas pelo pernambucano João de Deus Sepúlveda. Este profissional trabalhou em regime integral, durante quase quatro anos, deitado em uma cama de lona suspensa por carretéis, para conseguir combinar as tintas importadas de Lisboa e pintar o teto da igreja. A pintura do forro do coro, por outro lado, foi elaborada por seu ajudante, Manuel de Jesus Pinto, entre 1806 e 1807. Manuel é o autor da tela O Primado de São Pedro, que apresenta, em cores claras e brilhantes, o Mestre entregando as chaves da igreja a Pedro.

As portas do templo são pesadas, feitas em madeira jacarandá-mármore, e evidenciam belas almofadas trabalhadas. A igreja possui ainda obras delicadas de entalhamento (talhas douradas) e arabescos, com saliências e simetrias, grandes janelas com molduras barrocas e balaustradas, assim como janelas pequenas. Nas laterais do prédio, colunas gêmeas, coríntias, e sereias exóticas, podem ser apreciadas. Há, também, cataventos de anjinhos sobre as torres e, atrás da igreja, um pequeno cemitério.

O altar-mor é entalhado em madeira-mármore, com retábulos (painéis ou quadros decorativos) expressivos, destacando-se, entre suas colunas, as imagens de São Paulo e Santo Antônio de Pádua, que ladeiam a figura de São Pedro. Esta imagem, trazida de Lisboa em 1746, apresenta São Pedro com vestes pontificais e com uma tiara na cabeça. Todas os santos presentes na igreja são datados dos séculos XVIII e XIX.

Em alguns dias de festa, os fiéis podem ver um crucifixo bastante pesado, feito em ouro maciço, sendo carregado por São Pedro. Essa jóia possui três cravos de diamantes, e a sua cruz é uma tarrafa sextavada, contendo uma relíquia do Santo Lenho. O crucifixo foi um trabalho do artista-ourives recifense Antônio Rodrigues Machado.

A capela-mor da catedral contém um teto em madeira, ricamente esculpido, onde é possível apreciar, sob a forma de medalhões, as armas de São Pedro, as imagens dos 12 apóstolos e dos 4 evangelistas, três balcões ou tribunas (de cada lado), e 36 cadeiras esculpidas em jacarandá.

A sacristia apresenta uma pintura no teto (os 12 apóstolos sob a pomba do Espírito Santo), um altar com a imagem de Nossa Senhora da Soledade, e seis retábulos onde foram pintados, em corpo inteiro, o papa São Silvestre, o cardeal-bispo São Galdino, o arcebispo São João Crisóstomo, o papa São Damaso, o cardeal-arcebispo Carlos Borromeu, e o arcebispo-doutor Santo Ambrósio. Na sacristia vê-se, ainda, um lavabo de pedra portuguesa, uma cômoda dourada, dois repositórios e, no piso, encontram-se gravados dois epitáfios, com os seguintes dizeres:

AQUI JAZEM OS MAIORES PECADORES PEDEM PELO AMOR DE DEOS HUM PADRE NOSSO E HUMA AVE MARIA - 1829.
AQUY JAZ OS MAYORES PECCADORES DO MUNDO PEDEM PELLAS SUAS ALMAS HUMA AVE MARIA PELLO AMOR DE DEOS.

Na metade do século XIX, a capela-mor e os altares da igreja, bem como as talhas, as paredes e o teto do prédio, apresentaram muitos desgastes. O padre Inácio Francisco dos Santos foi indicado, na época, por uma comissão da Irmandade de São Pedro dos Clérigos, para dirigir os trabalhos de reparação da catedral.

A despeito de os recursos disponíveis terem sido escassos, aquele padre enfrentou o problema sozinho, conseguindo doações, esmolas, e o apoio de um bispo da diocese. Em sendo assim, contratou vários artistas locais, mandou vir entalhadores de Lisboa - entre os quais o mestre Bernardino José Monteiro -, e, após quase onze anos de árduo trabalho, conseguiu reformar e recuperar a catedral. A nova capela-mor, por sua vez, foi toda desenhada pelo padre Inácio Francisco, tendo ele confeccionado, inclusive, o sacrário de jacarandá presente na igreja.

A primeira imagem do templo é a de São Pedro, encontrando-se no pavimento superior. Ela é toda em madeira, com a cruz papal na mão direita e, infelizmente, teve a mão esquerda danificada. Essa imagem é bastante preciosa, uma vez que data da inauguração da igreja. Apenas em procissões solenes, é carregada pelas ruas do Recife.

Embora se encontre, hoje, apertada entre ruas estreitas, que foram calçadas nos tempos coloniais, a Igreja de São Pedro dos Clérigos continua esbanjando o seu imponente traçado arquitetônico, à luz do espaço urbano recifense.


Fontes consultadas:

FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.

GUERRA, Flávio. Velhas igrejas do Recife, Olinda e Igarassu. [Recife?: s.n., 196?].

_________. Velhas igrejas e subúrbios históricos. Recife: Fundação Guararapes, 1970.

MENEZES, José Luiz da Mota. Arrecifes: Revista do Conselho Municipal de Cultura do Recife, ano 3, n. 2, [19--?].

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