terça-feira, 19 de maio de 2009

IGREJA DE SANTO AMARO DAS SALINAS, Recife, PE

IGREJA DE SANTO AMARO DAS SALINAS (Recife, PE)

Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco



A igreja de Santo Amaro das Salinas, cuja lateral dá para a Praça General Abreu e Lima, está situada no bairro de Santo Amaro. Nela, pode-se ler: Igreja de Santo Amaro das Salinas – 1654.

Uma placa afixada na igreja, por sua vez, registra o seguinte:

Neste local, há trezentos anos, começou a rendição do Recife aos Restauradores de Pernambuco – depois de uma guerra áspera e penosa. Homenagem do Governo e do Povo de Pernambuco aos que resgataram a terra e a gente da dominação flamenga. (Memória mandada fazer pelo governador Etelvino Lins e pela comissão do Tricentenário, 15-1-1654 – 15-1-1954).

O surgimento da igreja de Santo Amaro das Salinas se confunde, em parte, com a própria trajetória de Francisco do Rêgo Barros. Nascido em Olinda, filho de pais nobres e ricos, Rêgo Barros era um juiz ordinário e de órfãos, em 1593, além de vereador e presidente da Câmara de Olinda. Ele mantinha nas proximidades de sua residência, além do mais, um serviço de aproveitamento de sal, mais conhecido como As salinas. E, nas primeiras décadas do século XVII, uma animada povoação havia se constituído em volta daquela fabricação de sal.

Quando os holandeses invadiram Pernambuco, em 1630, sua primeira investida foi contra a propriedade das salinas de Rêgo Barros. Esta não era bem protegida, mas os locais resistiram corajosamente, recebendo os flamengos com grossa metralha. Ao fim de três horas de lutas, os invasores se retiraram, carregando os feridos e deixando setenta mortos. Estes últimos tiveram o mesmo destino que a polícia volante deu, em 1938, ao bando de Lampião: as suas cabeças foram degoladas.

Dois meses depois desse episódio, os holandeses retornaram ao local e conseguiram incendiar a casa da propriedade. Não conseguindo tomar As salinas, porém, foram novamente forçados a recuar, deixando um saldo de vinte e seis mortos. Com o tempo, como era de se esperar, As salinas caíram em poder dos flamengos, e eles ali construíram vários fortes, entre os quais o Forte das Salinas.

No dia 15 de janeiro de 1654, os pernambucanos obtiveram uma grande vitória: a conquista daquela fortaleza! Como o dia 15 era consagrado a Santo Amaro, atribuiu-se a vitória a um milagre desse santo. Derrotados os holandeses, de uma vez por todas, pôde Francisco do Rêgo Barros, agora com o título de capitão e foro de fidalgo da Casa Real (por especial mercê de D. João IV), retornar às suas terras e As salinas.

Quando Rêgo Barros faleceu, o seu filho mais velho - Luís do Rêgo Barros - construiu, em 1681, uma capela sob a invocação de Santo Amaro - o protetor de seu pai -, sobre as ruínas do Forte das Salinas. Procedeu da mesma forma o seu irmão - João do Rêgo Barros -, quando mandou erguer a Igreja de Nossa Senhora do Pilar sobre os alicerces do Forte de São Jorge.

Por volta da metade do século XIX, os moradores da localidade já planejavam construir uma Irmandade na igrejinha, sob a invocação do seu padroeiro. Afinal, em 1870, os últimos herdeiros do antigo morgado (o Conde da Boa Vista - Francisco do Rêgo Barros -, e José Joaquim do Rêgo Barros), transferiram, para a Irmandade de Santo Amaro, todos os seus direitos sobre a propriedade. Os termos da cessão registravam que aquela incluia:

a Capela e terrenos adjacentes, com a extensão de 450 palmos de norte a sul, sobre a que vai do alinhamento marginal da estrada de Olinda, ao poente, até 20 palmos além da fachada lateral do Templo, ao nascente, inclusive o terreno pelo mesmo ocupado e o seu respectivo quintal.

A Irmandade de Santo Amaro, posteriormente, fez algumas reformas no prédio, e a igreja foi aberta ao culto público. Estabeleceu-se, então, a tradicional romaria que focalizou o nome Santo Amaro das Salinas, por todo o Estado de Pernambuco, como o grande santo milagreiro.

Um aspecto interessante do templo diz respeito à posição em que o prédio foi construído: voltado de lado para a avenida principal, e com a frente virada para o nascente. Registra a História que, várias vezes, tentou-se adotar a posição correta - mudando o altar-mor para uma posição contrária àquela em que se encontra -, e que, no dia seguinte à mudança, a imagem havia virado para a posição antiga, como se isso representasse um protesto (ou, mesmo, teimosia) de Santo Amaro.


Fontes consultadas:

FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.

GUERRA, Flávio. Velhas igrejas e subúrbios históricos. Recife: Fundação Guararapes, 1970.

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