terça-feira, 19 de maio de 2009

IGREJA DE NOSSA SENHORA DA GRAÇA, Olinda, PE

IGREJA DE NOSSA SENHORA DA GRAÇA (Olinda, PE)

Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco


Situada no morro do Seminário de Olinda e anexa ao ex-Seminário, a Igreja de Nossa Senhora da Graça foi construída em taipa, pelo donatário Duarte Coelho, no ano de 1551. O templo e as terras ao seu redor foram doados aos padres jesuítas, a fim de que pudessem dar início à catequese dos índios e à edificação do Colégio de Olinda.

Em 1567, a primitiva igreja foi substituída por um prédio de maiores dimensões. Neste sentido, Duarte Coelho contou com a ajuda do padre Antônio Pires, pedreiro e carpinteiro, que nivelou o terreno e deu os trabalhos por concluídos quatro anos mais tarde.

Cabe salientar que os religiosos da Companhia de Jesus instalaram no terreno um jardim botânico, no sentido de aclimatar as mudas de árvores frutíferas que foram trazidas pelos colonizadores de outros continentes para o País.

Entre os anos 1584 e 1592, o padre Luiz Grã empreendeu novas obras no prédio do templo, nele construindo uma nave única, um frontão retangular e um telhado em duas águas, baseando-se em um projeto arquitetônico da Igreja de São Roque, presente em Lisboa. Foi esse padre quem estabeleceu, na sede da capitania de Pernambuco, as primeiras classes de alunos. O Colégio de Olinda seria fundado oito anos mais tarde.

Com a invasão holandesa, toda a prataria e demais riquezas pertencentes à igreja foram enterradas em um lugar seguro e colocadas fora do alcance do inimigo. A igreja e o Colégio ficaram bastante danificados com o incêndio ocorrido em Olinda, em 1631.

Após a expulsão dos flamengos, essa riqueza foi resgatada e levada para Lisboa pelo padre Francisco de Vilhena, que veio especialmente de Portugal com o objetivo de acompanhar o transporte desses bens. Contudo, o navio que conduzia tais riquezas foi assaltado por piratas turcos e levado para Argel. Entre os objetos perdidos, encontravam-se uma magnífica lâmpada de prata e uma urna de ouro.

Depois que os batavos deixaram Pernambuco, a Igreja de Nossa Senhora da Graça e o Colégio de Olinda passaram por uma outra restauração, entre 1661 e 1662. Cabe ressaltar que, nesse colégio, o Padre Antônio Vieira, com dezoito anos de idade, já ensinava Retórica. Ainda hoje é possível observar a cátedra de onde o religioso adolescente discursava para os seus discípulos.

No dia 3 de setembro de 1759, o Marquês de Pombal bania a Companhia de Jesus de todo o Reino de Portugal, e mandava fechar todos os colégios jesuítas do Brasil, bem como as residências e missões destinadas a catequizar os indígenas.

Em se tratando dos detalhes arquitetônicos do templo, pode-se apreciar a sua feição rústica, a composição renascentista, as colunas e o entablamento coríntios, bem como a presença das tradições românico-portuguesas - arco cruzeiro, óculo, nicho arrematando o conjunto - existentes em inúmeras construções lusas, a exemplo da Igreja de São Pedro, em Leria, Portugal.

A nave do templo é simples. Os seus altares laterais, monumentos feitos em pedra, são os mais antigos do País. O santuário se encontra cercado por dois nichos de altares secundários. Na fachada há um óculo, localizado sobre a única porta existente – a de entrada – que é responsável pela iluminação da nave.

Fruto de uma reforma empreendida no século XVII, o campanário da Igreja de Nossa Senhora da Graça foi colocado na parte posterior da capela-mor. As janelas do coro e as outras capelas do templo, entretanto, foram construídas bem mais recentemente.

No cemitério da igreja encontram-se sepultados os restos mortais de Beatriz de Albuquerque (conhecida como Brites), esposa de Duarte Coelho.

Fontes consultadas:

BARBOSA, Antônio. Relíquias de Pernambuco. São Paulo: Editora Fundo Educativo Brasileiro, 1983.

FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.

GUERRA, Flávio. Velhas igrejas do Recife, Olinda e Igarassu. [Recife?: s.n.], [196?].

_________. Velhas igrejas e subúrbios históricos. Recife: Fundação Guararapes, 1970.

MENEZES, José Luiz da Mota. O Recife e as construções religiosas. Arrecifes: Revista do Conselho Municipal de Cultura, Recife, ano 3, n. 2, p. 27-31, 1987.

MUELLER, Bonifácio. Olinda e suas igrejas: esboço histórico. Recife: Livraria Pio XII, 1945.

SILVA, Leonardo Dantas. Pernambuco preservado: histórico dos bens tombados no Estado de Pernambuco. Recife: Ed. do Autor, 2002.

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