quarta-feira, 20 de maio de 2009

TEJIPIÓ (bairro, Recife)

TEJIPIÓ (bairro, Recife)

Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco


Chama-se Tejipió, desde o século XVII, a grande extensão de terra existente na margem esquerda do rio Tejipió. Este rio nascia em um lugar chamado Manucaia, no extremo da freguesia da Várzea, município do Recife com o de São Lourenço da Mata, atravessava as terras dos engenhos São Francisco e São João, banhava o engenho Jangadinha, recebia o ribeiro Pacheco (que vinha do engenho Sucupira Torta), e atravessava as terras dos engenhos Peres, Uchoa e Ibúra. Seguia pelo Cabo, fazia uma curva para desembocar na ponte do Motocolombó, indo desaguar no mar, a leste da ilha do Nogueira, em um lugar chamado Mercatudo. Neste local, segundo a Descrição de Pernambuco de 1746, existiam quatro curtumes de sola, com 42 escravos.

De acordo com os lingüistas, o nome Tejipió provém de uma alteração da palavra tupi tejupió, uma corruptela de teyu’piog, que significa raiz de teju, uma planta que existia em abundância naquelas terras.

A localidade existia bem antes da invasão dos flamengos. Dela fazia parte um engenho de açúcar pertencente a Sebastião Bezerra. Todo o açúcar fabricado chegava ao Recife em caixas de madeira, através de pequenos barcos. Com o passar do tempo, essas caixas foram substituídas por sacos de algodão.

Depois de 1630, o engenho foi abandonado por seus proprietários e confiscado pelos holandeses, sendo vendido como uma grande fazenda a João Fernandes Vieira, em 1645. Ele, por sua vez, construiu uma bela casa para residir.

Quando foi deflagrada a luta contra os holandeses, acampou em Tejipió a tropa vinda da Bahia, sob o comando dos mestres-de-campo André Vidal de Negreiros e Martin Afonso Moreno. Essa tropa tinha se juntado ao exército independente pernambucano, na povoação do Cabo de Santo Agostinho. Foi de Tejipió, inclusive, que partiram muitos soldados valorosos para a jornada que resultou na batalha das Tabocas.

Em meados do século XVIII, das ruínas da vivenda de João Fernandes Vieira, erigiu-se uma capela sob a invocação de Nossa Senhora do Rosário. De acordo com uma placa fixada na soleira da porta principal, a capela situava-se a 21,45m acima do nível médio do mar. Esse templo deu sepultura, em seu cemitério privativo, aos membros da igreja e aos filhos (até a idade de sete anos), de João Fernandes Vieira, estendendo o benefício às pessoas pobres.

Em 1819, mediante um aterro, o governador de Pernambuco, Luís do Rego Barreto, construiu uma estrada para Tejipió. Isso veio facilitar a comunicação do povoado com a cidade do Recife. A primeira estrada de rodagem, porém, que ia de Afogados até Areias, só foi construída em 1836.

Vale registrar, apenas a título de ilustração, que Castro Alves morou no Barro - caminho de Tejipió -, com Eugênia Câmara, o maior amor de sua vida. Portuguesa de nascimento e dez anos mais velha que o poeta, ela era considerada a melhor atriz do Império. Foi por ele homenageada em versos, no Teatro Santa Isabel.

Fontes consultadas:

COSTA, F. A. Pereira da. Arredores do Recife. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1981.

FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife: estátuas e bustos, igrejas e prédios, lápides, placas e inscrições históricas do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.

GUERRA, Flávio. Velhas igrejas e subúrbios históricos. Recife: Fundação Guararapes, 1970.

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