sábado, 16 de maio de 2009

CAPELA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO (JAQUEIRA), Recife,PE

CAPELA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO (Jaqueira, Recife)
Semira Adler Vainsencher
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco

Também chamada de Capelinha da Jaqueira, a capela de Nossa Senhora da Conceição fica situada próximo à Ponte D'Uchôa, no atual Parque da Jaqueira. Ela era a capela do solar de Bento José da Costa. E, como naquele terreno existiam muitas jaqueiras, o local ficou sendo chamado de Sítio das Jaqueiras.

A capelinha, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição, remonta ao início do século XVIII, época em que o proprietário daquelas terras era o capitão Henrique Martins. Antes dele, o terreno pertencera ao antigo senhor do engenho da
Torre, Antônio Borges Uchôa, o mesmo que construiu uma ponte sobre o rio Capibaribe, a chamada Ponte D'Uchôa, ligando o seu engenho àquelas terras.

Henrique Martins e a esposa eram grandes devotos da Virgem da Conceição. Há registros de que, em certa ocasião, ele foi acometido por uma crise de erisipela e recorreu à sua padroeira, para que lhe devolvesse a saúde. Tendo o capitão se restabelecido, ele e a esposa manifestaram gratidão depositando um
ex-voto junto à milagrosa: uma gravura onde se vê Henrique Martins deitado, coberto por uma colcha de ramagens vermelhas e azuis, com a esposa e o médico à sua volta e, na cabeceira, uma visão da Virgem.

Além disso, no dia 8 de janeiro de 1766, o casal doou um terno (moenda de engenho de açúcar) avaliado em vinte mil réis, para que fosse levantada uma capelinha para a Virgem. Dessa maneira, como o local era chamado de Sítio das Jaqueiras, a capela ficou conhecida pela população como Capela da Jaqueira, nome que conserva até hoje.

Em 1782, os bens do capitão Henrique - incluindo o Sítio das Jaqueiras -, foram leiloados, por causa do seu envolvimento em um processo de desfalque. O Sítio foi arrematado por Domingos Afonso Ferreira, mas, no século XIX, já pertencia ao português Bento José da Costa, o homem mais abastado do Recife.

Registra a história que Domingos Afonso Ferreira se apaixonou por Maria Teodora, filha de Bento José da Costa e que, a este comerciante, pediu a mão da filha em casamento. Domingos Afonso teve seu pedido negado, uma vez que, naquela época, a escolha do futuro genro dependia, tão-somente, da preferência do pai da pretendida.

No entanto, após a revolução de 1817, Domingos Afonso Ferreira, como herói da revolução e vencedor, impôs a sua escolha e, em uma grande festa, casou-se com Maria Teodora na Capela da Jaqueira.

Bento José da Costa, por sua vez, além de comerciante era, ainda, coronel de milícias e comandante de um corpo de guarnição do Recife. Era muito amigo, inclusive, do último administrador português de Pernambuco: o capitão-general Luís do Rêgo Barreto. Juntamente com esse governador, como membro da Junta Constitucional Governativa, Bento compôs o Governo da Capitania em 1821.

Os restos mortais do comerciante estão enterrados por baixo do altar-mor da Capela, onde, em grandes letras, pode-se ler:

Aqui jaz o coronel
BENTO JOSÉ DA COSTA
Falecido em 10 de fevereiro
de
1834
na edade de 75 anos
a cuja memória dedicão este monumento
sua saudoza esposa e seus onze filhos.

Os herdeiros de Bento José, sem o menor cuidado pela propriedade herdada, deixaram que as jaqueiras centenárias fossem derrubadas, e que o Sítio das Jaqueiras se transformasse em um campo de futebol. Quando este foi fechado, a terra foi loteada, e a Capela da Jaqueira permaneceu abandonada em meio a um grande matagal.

Ela só não foi totalmente destruída, devido à intervenção, em 1944, do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Na ocasião, o templo foi restaurado e construíram, em sua volta, um belo parque: o da Jaqueira.

Sob a gestão do prefeito José do Rego Maciel, o famoso paisagista Roberto Burle-Marx projetou o ajardinamento da localidade. Vale registrar que, mesmo depois de tombada pelo IPHAN, a Capela foi saqueada em 1951 e vários de seus pertences foram roubados: dois armários em jacarandá trabalhado (da sacristia), e algumas portas e janelas.

A Capela da Jaqueira é uma construção barroca. O seu interior é decorado com azulejos raros, do mesmo estilo dos azulejos dos conventos carmelitas e franciscanos. Podem ser apreciados alguns notáveis painéis sacros, de traçados e cores fortes, que o tempo não conseguiu apagar. Os forros da capela-mor (evocando a Anunciação), do coro (focalizando o casal Nossa Senhora e São José) e da nave (a efígie da Padroeira) possuem pinturas significativas do final do século XVIII.

É possível observar, também, dois grandes retratos a óleo, sobre madeira, representando Santo Antônio e São Henrique, bem como São João Batista e São Filipe Nery. O altar do templo é barroco, embora apresente alguns motivos em estilo rococó. Existe um manuscrito na capela-mor, datado de 13 de novembro de 1781, que contém a tradução de um Breve de Indulgência do Papa Pio VI.

Na sacristia encontra-se uma relíquia: um lavatório de pedra, com uma torneira longa, feita em bronze, uma obra do século XVIII. As imagens do templo - aquelas que escaparam ao furto e à depredação - estão guardadas na Igreja de São José do Manguinho.

É importante salientar que as telhas da Capela, suas madeiras, fechaduras, aldrabas, ferrolhos, dobradiças, entre outros objetos que foram confeccionados em ferro e bronze, são originais de sua construção e datados de 1766. E que, até os anos 1960, o parque existente em volta da capela era todo iluminado por lampiões, pendurados em postes ingleses.


Fontes consultadas:

FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.

GUERRA, Flávio. Velhas igrejas e subúrbios históricos. 2. ed. rev. e ampl. Recife: Fundação Guararapes, 1970.

Nenhum comentário:

Postar um comentário